O Movimento
Não Pago surge no início de 2011, em mais uma das tentativas de jovens
estudantes e trabalhadores barrarem o aumento abusivo do transporte coletivo na
capital Aracaju. Neste ano a passagem aumentou para R$2,25. Isso significa que
um trabalhador que ganha um salário mínimo por mês e vai e volta para o
trabalho por 24 dias no mês, tem um gasto de R$54,00, ou seja, 10% da sua
renda. Isso se ele não precisar ir para qualquer outro lugar, se divertir nos
finais de semana e ainda pagar a passagem dos filhos. Isso tudo por mês deve
pesar muito no orçamento de uma família de trabalhadores. É justo que um
trabalhador gaste essa quantia por um péssimo sistema de transporte?
Nós
não nos contentamos com essa situação. Sabemos que a miséria da população que
necessita andar de ônibus é o que sustenta o lucro dos empresários. Essa é a
ideia central do movimento Não Pago: a luta em defesa de um transporte
coletivo, público, gratuito e de qualidade. O estado não pode
continuar negociando direitos da população já tão sofrida. Temos o direito de
ir e vir, ou apenas se pagarmos a cara tarifa de ônibus? Mas e os impostos? Não
já pagamos uma carga excessiva que nos permitiria ter um transporte enquanto um
direito de se locomover pela cidade, tal qual a educação ou a saúde são
bancadas pelos impostos? O que, de fato, impede que isso aconteça? O que impede
que o sistema de transporte seja “desprivatizado”?
Juntos
com as demais explosões de revolta popular que surgiram em diversas capitais
pelo país, mostrando que o problema do transporte não é localizado, mas atende
a uma lógica específica de exploração, defendemos a seguinte bandeira: Tarifa
Zero! Pauta que simboliza justamente o nosso norte estratégico, qual
seja a transformação do transporte num direito de fato e não numa mercadoria. E
isso não se dará por decreto ou vontade entre as partes, mas somente com muita
luta e engajamento da sociedade. Teresina deu o exemplo e com mais de 30 mil
pessoas nas ruas, não deixaram que a passagem aumentasse novamente. É possível
resistir! É possível avançar!
Desta
forma, enquanto movimento social organizado, sabemos que não conseguiremos as
conquistas sozinhos ou lutando pelos outros, mas somente com o efetivo
envolvimento do conjunto da juventude e da classe trabalhadora. Por isso não dá
para conseguir as coisas do dia para a noite e precisamos acumular forças, nas
lutas contra o aumento da tarifa, por melhorias na qualidade das linhas e dos
terminais, por salários dignos para os rodoviários, entre outras pautas que nos
ajudem a ter melhoras, nem que sejam pontuais. Mas não podemos perder o
objetivo maior, pois se não deixarmos de pagar o lucro do patrão, não
resolveremos o problema na sua raiz. Para nós, é tempo de radicalidade!
Como
não é possível abandonar a história da luta pelo transporte na capital,
relembramos sempre dos tempos do MPL - Movimento Passe Livre e reivindicamos
esse acúmulo como parte fundamental para nossa leitura da realidade nos dias
atuais. Assim, não desconsiderando o que já passou, aprendendo com diversas
experiências de luta, nos propomos a dialogar.
O Movimento possui alguns princípios que orientam a atuação. São eles:
O Movimento possui alguns princípios que orientam a atuação. São eles:
1) Democracia e horizontalidade.
O Movimento Não Pago se constitui enquanto pólo
militante organizado que busca a emancipação das pessoas através da
mudança da realidade social do país e do mundo. Para isso visualizamos a
necessidade da organização coletiva, de modo que possamos construir uma
participação política que supere os limites da democracia representativa,
apontando para uma maior atuação direta. Apesar de reconhecer a
experiência em luta de alguns militantes, todos terão o mesmo poder de
decisão dentro do movimento não pago.
2)
Autonomia
Defendemos que o movimento possua espaços
próprios de discussão, formulação e deliberação política. Com isso não
negamos as contribuições de outras organizações, nem somos contrários à
participação de pessoas vinculadas às mesmas. Porém é fundamental que o
movimento tenha a autonomia para debater de maneira independente
(inclusive apresentando as divergências existentes), não ficando preso a
qualquer tipo de organização, seja partidária ou não. A autonomia política
deve ser também financeira. O financiamento recebido não pode, em hipótese
alguma, comprometer as deliberações do movimento. Do mesmo modo, não aceitamos
doações de entidades patronais.
3) Classista e Anticapitalista.
Vivemos numa sociedade dividida em classes
sociais e a história da humanidade tem sido, até então, a história da luta
de classes. Diante disso, não podemos tomar uma postura “neutra”. No embate
entre os que só tem a própria força para vender (trabalhadores) e os que detêm
os meios necessários à produção de mercadorias (burguesia) o movimento se
coloca ao lado dos explorados.
Para o movimento, a luta deve apontar
necessariamente uma radical superação do sistema capitalista. É preciso
romper com a lógica da produção voltada ao lucro e não às necessidades das
pessoas. Também consideramos o combate às opressões, fundamental na
construção de uma outra organização social.
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