sábado, 10 de setembro de 2011

O Transporte Coletivo em Aracaju: Lançando desafios!


 O Transporte coletivo em Aracaju: Lançando desafios!
por Movimento Não Pago!

Esse breve texto tem a intenção de chamar a atenção da população aracajuana para o quadro caótico do nosso sistema de transporte coletivo que ao passar dos anos vem se degradando e nos degradando cada vez mais. Um transporte que muitos falam ser Público, mas na verdade é Privado, comandado por apenas Três empresários, donos das Nove empresas que aqui operam. Obviamente, sempre com o amparo do governo municipal, através da SMTT, que “diz” fiscalizar o sistema. Não é nenhuma novidade que os ônibus de Aracaju são demorados, sujos, verdadeiras latas de sardinha, caríssimos e nem de longe dão conta da demanda ou tem alguma qualidade. Mas os últimos acontecimentos nos chamaram atenção e merecem algumas considerações.

Em primeiro lugar, vimos o prefeito Edvaldo Nogueira, mais uma vez prometer a licitação do transporte. Isto já está virando mito! E dessa vez acrescentou também no anúncio o plano de mobilidade urbana, o qual precisamos debater e lutar pela inserção de medidas que de fato beneficiem a maioria da população e não o interesse empresarial. Aqui frisamos que para se anunciar uma licitação é porque ela não existe. As empresas mandam e desmandam a partir de um instrumento jurídico conhecido como “autorização a título precário”, que não é nem permissão, nem concessão de serviço público. Isto é, os empresários atuam na cidade, do jeito que querem e bem entendem, com total conivência do poder público.

A outra questão é: será que após a licitação as mesmas empresas (leia-se os grupos Progresso, Halley e Bomfim), que há anos vêm prestando um serviço que agride a nossa dignidade, continuarão explorando o transporte público em nossa cidade? Porque se for assim, não é licitação, é enrolação. Como os empresários não param de lucrar com essa prefeitura, o estudo da licitação não será feito pela SMTT, mas por uma empresa de consultoria contratada. Que empresa é essa mesmo? A SMTT não tem capacidade de elaborar um estudo sobre o transporte em Aracaju? Perguntas a serem respondidas.

Mas o interessante mesmo foi a edição do CINFORM da semana passada, de número 1481 que traz estampada na capa: “Xepeiros deixam tarifa de ônibus mais cara”. Essa manchete além de ser uma mentira deslavada, mostra que os empresários não contam somente com a prefeitura e os vereadores (sempre em silêncio sobre o aumento da tarifa e a qualidade de transporte), mas também com a mídia. Não à toa, o SETRANSP promove anualmente um prêmio jornalístico que promove a mídia burguesa do estado de Sergipe e da capital.

Pois bem, a mentira é descoberta na própria reportagem, onde os empresários e o jornal omitem o valor do mega lucro das empresas. Senão vejamos: Os dados fornecidos pelo SETRANSP  referente aos fatores que compõem o preço da tarifa reproduzidos pelo CINFORM são os seguintes: 19,68% - combustíveis; 1,73% - óleos e lubrificantes; 6,67% - rodagem; 6,31% - peças e acessórios; 41,48% - pessoal; 1,57% - despesas administrativas; 4,83% - depreciação; 4,08 – remuneração; 13,65% - impostos e taxas. Este somatório totaliza 100% e os elementos declarados são “tudo aquilo” que influenciam no preço da passagem. Mas nessa conta onde está o lucro das empresas?

No mundo em que vivemos nenhum empresário monta um negócio para perder dinheiro, somente para ganhar cada vez mais. Abre-se uma empresa para lucrar. Se nas contas que os empresários apresentam sobre o preço da passagem não se encontra o lucro deles, de onde tiram dinheiro? Ou seja, quem afinal deixa a tarifa de ônibus mais cara: os “xepeiros” – que na maioria das vezes são trabalhadores pobres que não tem condições de pagar a sua própria passagem – ou o mega lucro dos empresários que nunca tem seu valor declarado? Não nos enganemos: essa reportagem tem um único objetivo que é preparar o consciente coletivo da população para mais um aumento abusivo do preço da passagem no próximo janeiro/fevereiro, coisa que já acontece a onze anos consecutivos.

Mas a cara de pau dos empresários precisa realmente de muito óleo de peroba. Amâncio, o “laranja” que os empresários colocam à frente da SETRANSP para não mostrarem a sua cara, ainda diz na mesma reportagem: “No dia em que eu estiver num engarrafamento parado dentro do meu carro e ver um ônibus passar ao meu lado sem implicações, até eu vou passar a andar de ônibus”. Porque será mesmo que Amâncio e os donos das empresas, Lauro Bomfim, Adierso Monteiro e Marcos Petrônio não andam de ônibus? Vale lembrar que aqui no estado os empresários do transporte também financiam grandes eventos como o Pré-Caju, o Forró Caju e ainda concorrem às eleições, como foi o caso de Adierso e Laurinho da Bomfim, ambos suplentes de senador, um de Albano e o outro de Amorim, além de financiarem diversas candidaturas. Em Aracaju, a relação burguesia x estado é por demais complexa.

De forma consciente, a classe dominante oprime a classe trabalhadora de Aracaju e região com esse transporte de péssima qualidade. Uma farra de lucros em cima da miséria da população. É o ônibus lotado que sustenta a gasolina dos carros dos empresários. São as horas trabalhadas não pagas dos rodoviários que bancam as festas e campanhas eleitorais dos ricos. Basta! O movimento Não Pago! continuará firme na luta pela estatização do transporte público, com tarifa zero, mas de antemão lançamos dois desafios para os empresários e seus pares: Desafio 1: revelar para a população de Aracaju qual o lucro mensal de cada uma de suas empresas; Desafio 2: andarem de ônibus como os milhares de usuários em Aracaju que necessitam desse meio de transporte. Não é simples os empresários revelarem o que ganham e andar nos ônibus os quais eles mesmos são donos? É pedir demais? Os desafios estão lançados...

Movimento Não Pago!
Aracaju, setembro de 2011

2 comentários:

  1. É uma putaria mesmo.

    Poderíamos criar um movimento #CadeiaJá!

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  2. Acho que (caso raro) o título desta reportagem foi cuidadoso. Ele disse: Xepeiros deixam a tarifa mais cara. Obviamente há o foco em um pedaço do problema, mas não há como dizer que a frase é falsa - eles deixam a tarifa mais cara, isso é uma consequência de entrar sem pagar, não há como declinar disso. Não é uma mentira deslavada.

    Por que foi cuidadosa? Por que a reportagem poderia ter dito "Xepeiros são [os] responsáveis por encarecer a tarifa" - e aí sim seria uma afirmação difícil de defender.

    Outra coisa: o que exatamente quer dizer "remuneração" na porcentagem dos gastos?

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