Empresários do transporte cobram reajuste, mas não apresentam nenhum dado concreto
Por Demétrio Varjão*
Nesta terça-feira (29/01), o SETRANSP,
Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Município de
Aracaju, entregou à SMTT um ofício solicitando um reajuste na tarifa de
ônibus para R$ 2,52.
O fundamento desse reajuste é o crescimento dos
custos com a manutenção do sistema, que tornou o preço da tarifa
defasado. Mas se tal argumento é verdadeiro, por que as empresas não
apresentam os custos e os lucros do sistema de transporte coletivo?
O fato é que as empresas de ônibus nunca
revelam demonstrações contábeis, ou quaisquer dados que comprovem que
operam em déficit, ou que o passivo está maior que o ativo. Aliás, a
própria prefeitura contribui para que não haja transparência nesse
processo.
Nas últimas décadas o reajuste da tarifa vem
se dando a portas fechadas, num acordo obscuro entre gestores
municipais e empresários do transporte. Agem, inclusive, contrariando a
Lei Orgânica do Município, que em seu artigo 241 obriga que todo aumento
na tarifa de ônibus passe pela Câmara de Vereadores.
Nesse interim uma constatação é clara. Mesmo
com tantos reajustes acima da inflação, a qualidade do transporte
público de Aracaju só piora.
Ainda em 1984, forçada pelos reclames da
população aracajuana, a Câmara Municipal instalou uma Comissão
Parlamentar de Inquérito para apurar a necessidade do reajuste
tarifário. No relatório da CPI dos Transportes ficou claro que as
alegações das empresas eram completamente infundadas, não havia déficit,
tampouco era justificável uma majoração na passagem.
À época, o prefeito Heráclito Rollemberg passou por cima do relatório do legislativo municipal e concedeu o reajuste.
Esse autoritarismo do poder executivo
continua sendo regra tanto em Aracaju como noutras capitais do país.
Face à inércia dos demais poderes instituídos, estudantes e
trabalhadores organizados vêm combatendo esse processo.
Em Maceió, no ano 2012, os levantes contra o
reajuste de R$ 2,10 para R$ 2,49 fizeram com que o Ministério Público
acionasse o judiciário. Em seu despacho, na Ação Cautelar Nº
2012.005580-6, a Desembargadora Nelma Padilha questionou o argumento do
empresariado, alegando que não fora comprovado prejuízo em virtude da
manutenção do valor da tarifa. Sua decisão o manteve no patamar de R$
2,10.
Já em Aracaju,em janeiro do mesmo ano, o
Movimento Não Pago levou uma representação ao Ministério Público
estadual na qual apontava a existência de indícios de irregularidades no
reajuste tarifário, fazendo necessária a realização de uma auditoria
nos custos e lucros das empresas de ônibus. Passado um ano, o órgão
ainda não se posicionou sobre a possibilidade de iniciar uma ação
judicial.
Com o aceno positivo do prefeito João Alves filho diante da pressão do empresariado por um novo aumento, a questão volta à tona.
É absurdo e imoral que as próprias empresas
realizem o cálculo do reajuste, e que a prefeitura não o questione e nem
se esforce para tornar os dados públicos. É necessário haver auditorias
detalhadas e permanentes sobre os custos e os lucros das empresas do
setor, com participação direta da sociedade civil e dos poderes
instituídos.
Embora a maior parte da imprensa local não
aponte, as contradições do sistema privado de transporte coletivo –
tarifa alta e péssima qualidade do serviço – colocam uma pulga atrás da
orelha da população, sobretudo quando o argumento do empresariado é
flagrantemente descolado da realidade. Ou será que ninguém percebe que
enquanto alegam grandes déficits no seu orçamento, as empresas de ônibus
gastam muito dinheiro patrocinando festas, além de figurarem entre os
principais financiadores das campanhas eleitorais em todo o país.
* Demétrio Varjão é Economista, Mestrando em Comunicação pela Universidade Federal de Sergipe e Militante do Movimento Não Pago.
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