População não tem informações sobre lucro dos empresários
por Paulo Victor - retirado da Infonet - http://www.infonet.com.br/paulovictor/ler.asp?id=139671
Como já é de costume, todo início de ano volta à tona em Aracaju a
questão do transporte público, mais precisamente a discussão sobre o
aumento da tarifa de ônibus.
Durante a abertura da maior festa privada/comercial da cidade – que é,
inclusive, financiada pelas empresas de ônibus – o prefeito João Alves
disse que, “pessoalmente, não vê com simpatia um possível aumento”, mas
“que qualquer proposta será analisada a partir das planilhas de custos
apresentadas pelas empresas”.
A afirmação de João Alves aparenta uma preocupação em não onerar a
população com mais um aumento da tarifa. Mas, apenas aparenta.
Se, de fato, estiver preocupado com o transporte público de qualidade
na capital sergipana, o prefeito João Alves vai publicizar quanto a
prefeitura arrecada com o imposto pago pelos empresários; vai encaminhar
a discussão sobre a tarifa para a Câmara de Veradores; vai promover uma
série de audiências públicas com a população; e vai ativar o Conselho
Municipal de Transportes, com participação da sociedade.
Se, de fato, estiver preocupado em não aumentar os gastos dos
aracajuanos com transporte público, o prefeito solicitará não a planilha
de custos, mas sim a planilha de lucros das empresas.
É essa planilha que vai mostrar quanto os empresários de transporte
enriquecem todos os anos, oferecendo à população ônibus velhos,
superlotados, sem horários definidos, sem qualquer controle social e com
trabalhadores com elevado nível de stress por conta da pressão que
sofrem cotidianamente.
Na verdade, demonstrar uma aparente preocupação com os problemas
enfrentados pela população no que diz respeito ao transporte público
parece ser uma tendência em Aracaju. Foi assim com o prefeito anterior –
Edvaldo Nogueira – que, ao não aumentar o preço da tarifa de ônibus no
ano passado, tentou construir uma imagem de prefeito que “governa
pensando na população”.
Também, nada além da aparência. Afinal, o valor da tarifa não aumentou,
mas o Imposto sobre Serviços (ISS) pago pelos empresários diminuiu
consideravelmente.
Nunca é demais lembrar ainda que, entre 2000 e 2011, o valor da
passagem de ônibus na “cidade da qualidade de vida” aumentou 150%,
passando de R$ 0,90 para R$ 2,25. Além do ano passado, apenas em 2005
não houve aumento.
Este ano, o sindicato dos empresários – Setransp – ainda não se
manifestou sobre uma nova proposta de valor. Mas uma coisa é certa:
todos os anos, a estratégia das empresas é “pedir o ótimo” para “ganhar o
bom”. Quem não se lembra de 2010, quando o pleito dos empresários era
R$ 2,45 e a tarifa subiu para R$ 2,25?
Essa estratégia busca somente gerar uma aparente necessidade das
empresas terem que atuar em desequilíbrio com os cálculos “planejados”.
Só aparência, nada mais. Podemos, então, esperar uma proposta de aumento
do Setransp e uma “contraproposta” da prefeitura num valor inferior.
Na essência, é um verdadeiro jogo, consequência das relações pouco
republicanas – quando não promíscuas – entre empresários e poder
público. As empresas de transportes são responsáveis por grande parte do
bolo do financiamento das campanhas eleitorais dos principais partidos
do país. A cada início de ano, é hora de pedir o troco. E quem paga?
Certo faz o Movimento Não Pago – que, devido à sua mobilização, foi o
principal responsável pelo congelamento da tarifa de ônibus no ano
passado – ao se antecipar e já iniciar a necessária articulação entre
estudantes e trabalhadores para, mais uma vez, voltar às ruas e propor
um transporte público de qualidade para a população de Aracaju.
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