segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Transporte público em Aracaju: as aparências enganam

População não tem informações sobre lucro dos empresários
por Paulo Victor - retirado da Infonet - http://www.infonet.com.br/paulovictor/ler.asp?id=139671
 
Como já é de costume, todo início de ano volta à tona em Aracaju a questão do transporte público, mais precisamente a discussão sobre o aumento da tarifa de ônibus.
Durante a abertura da maior festa privada/comercial da cidade – que é, inclusive, financiada pelas empresas de ônibus – o prefeito João Alves disse que, “pessoalmente, não vê com simpatia um possível aumento”, mas “que qualquer proposta será analisada a partir das planilhas de custos apresentadas pelas empresas”.
A afirmação de João Alves aparenta uma preocupação em não onerar a população com mais um aumento da tarifa. Mas, apenas aparenta.
Se, de fato, estiver preocupado com o transporte público de qualidade na capital sergipana, o prefeito João Alves vai publicizar quanto a prefeitura arrecada com o imposto pago pelos empresários; vai encaminhar a discussão sobre a tarifa para a Câmara de Veradores; vai promover uma série de audiências públicas com a população; e vai ativar o Conselho Municipal de Transportes, com participação da sociedade.
Se, de fato, estiver preocupado em não aumentar os gastos dos aracajuanos com transporte público, o prefeito solicitará não a planilha de custos, mas sim a planilha de lucros das empresas.
É essa planilha que vai mostrar quanto os empresários de transporte enriquecem todos os anos, oferecendo à população ônibus velhos, superlotados, sem horários definidos, sem qualquer controle social e com trabalhadores com elevado nível de stress por conta da pressão que sofrem cotidianamente.
Na verdade, demonstrar uma aparente preocupação com os problemas enfrentados pela população no que diz respeito ao transporte público parece ser uma tendência em Aracaju. Foi assim com o prefeito anterior – Edvaldo Nogueira – que, ao não aumentar o preço da tarifa de ônibus no ano passado, tentou construir uma imagem de prefeito que “governa pensando na população”.
Também, nada além da aparência. Afinal, o valor da tarifa não aumentou, mas o Imposto sobre Serviços (ISS) pago pelos empresários diminuiu consideravelmente.
Nunca é demais lembrar ainda que, entre 2000 e 2011, o valor da passagem de ônibus na “cidade da qualidade de vida” aumentou 150%, passando de R$ 0,90 para R$ 2,25. Além do ano passado, apenas em 2005 não houve aumento.
Este ano, o sindicato dos empresários – Setransp – ainda não se manifestou sobre uma nova proposta de valor. Mas uma coisa é certa: todos os anos, a estratégia das empresas é “pedir o ótimo” para “ganhar o bom”. Quem não se lembra de 2010, quando o pleito dos empresários era R$ 2,45 e a tarifa subiu para R$ 2,25?
Essa estratégia busca somente gerar uma aparente necessidade das empresas terem que atuar em desequilíbrio com os cálculos “planejados”. Só aparência, nada mais. Podemos, então, esperar uma proposta de aumento do Setransp e uma “contraproposta” da prefeitura num valor inferior.
Na essência, é um verdadeiro jogo, consequência das relações pouco republicanas – quando não promíscuas – entre empresários e poder público. As empresas de transportes são responsáveis por grande parte do bolo do financiamento das campanhas eleitorais dos principais partidos do país. A cada início de ano, é hora de pedir o troco. E quem paga?
Certo faz o Movimento Não Pago – que, devido à sua mobilização, foi o principal responsável pelo congelamento da tarifa de ônibus no ano passado – ao se antecipar e já iniciar a necessária articulação entre estudantes e trabalhadores para, mais uma vez, voltar às ruas e propor um transporte público de qualidade para a população de Aracaju.

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